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Volta do IPI provoca corrida às lojas
Com o mote do fim do IPI reduzido, feirões e concessionárias estiveram lotados no fim de semana.
Marianna Aragão
O escriturário Daniel de Lima, de 20 anos, decidiu antecipar ontem o presente que daria a si próprio no próximo Natal. O jovem comprou seu primeiro veículo, um Peugeot 206 zero quilômetro, em um dos feirões organizados por montadoras para aproveitar as vendas no último fim de semana com isenção total do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, em São Paulo.
O "presente" saiu por R$ 26.800, valor dividido em 60 prestações, sem nenhuma entrada. "Consegui economizar uns R$ 3 mil", estima Lima, que inclui na conta, além da isenção do imposto, o desconto extra oferecido pela montadora nos principais modelos e o IPVA (imposto sobre veículos) grátis. "Deixei para última hora, mas valeu a pena."
Com o mote do fim do IPI reduzido, feirões e concessionárias estiveram lotados no fim de semana. Com o movimento, já há fila de espera para entrega de muitos modelos. No evento da Peugeot, apenas 30% dos que fecharam negócio conseguiram sair com o carro novo direto para a casa. "Os modelos de entrada estão todos com espera", diz o vendedor André Rubens Lopes. O prazo mínimo para receber o veículo é de 15 dias.
Cerca de 80 vendedores foram recrutados para o feirão da montadora francesa. Ainda assim, foi preciso chamar reforços. "Foi difícil atender a todos", diz o gerente nacional de vendas, Stéphane Majka. No sábado, foram vendidos 450 veículos no feirão e nas lojas da rede, um recorde de comercialização diária para a empresa. A expectativa era dobrar esse número até domingo.
A estratégia da montadora, segundo Majka, foi focar em descontos e bônus adicionais, em vez de aumentar subsídios nas taxas de juros para financiamento. "O mercado hoje está orientado para preço", comenta. A ideia por trás da decisão é que o consumidor estaria disposto a dar entradas maiores na compra do veículo, para aproveitar a redução do IPI e outros descontos. "Os descontos são consideráveis", diz a professora Michele Perrone, de 36 anos, que esteve no feirão ontem, em busca de um novo automóvel para a família.
Em uma concessionária do grupo Amazonas, da rede Fiat, as vendas nos últimos dois dias estiveram 50% maiores que a média para fins de semana. A loja optou por ofertas especiais em determinados veículos. Um modelo Punto, por exemplo, que custa normalmente R$ 37.500, passou para R$ 33.800 na última semana. "Aproveitamos o apelo do IPI", afirma o gerente de vendas Reinaldo Nerva.
Segundo ele, com as vendas aquecidas das últimas semanas, o grupo Amazonas já garantiu o melhor setembro de sua história. Serão dois mil carros comercializados, ante uma média de 1,3 mil para o período. O desempenho recorde fez esgotar a disponibilidade da maioria dos modelos da loja. "Só temos Uno e Palio. Todos os demais, só sob encomenda", diz Nerva. A espera pode demorar 30 dias.
Em uma loja da Ford, não foi mais possível encontrar modelos como o Ka, neste fim de semana. "Estamos sem estoque para os carros mais populares", diz o gerente de vendas Francisco de Sales.
Quem comprar hoje sob encomenda pode perder parte do desconto do IPI, já que na próxima quinta-feira termina a isenção completa, passando a valer a cobrança de 1,5% do tributo. Na loja da Ford, nas vendas em que não há pronta entrega, o cliente é avisado da possibilidade de incidência, ainda que parcial, do imposto.
Já nas vendas realizadas no feirão do fim de semana, a Peugeot se comprometeu assumir a diferença, caso o veículo seja faturado após o dia 1º de outubro. A agente de viagens Terezinha Oricchio, de 70 anos, vai se beneficiar da iniciativa. Ela adquiriu um Peugeot 207 ontem, atraída pela redução do imposto e pelo desconto oferecido pela montadora no modelo, de cerca de R$ 500. Porém, terá de aguardar uma semana para receber o veículo.
O gerente nacional de vendas, Stéphane Majka, diz ainda não saber se haverá repasse imediato da volta do IPI nos preços finais, a partir de quinta-feira. "Sabemos que o custo para o concessionário vai subir, mas não se vamos repassar no mesmo ritmo da lei", afirma.
TURBINADO
As vendas turbinadas pelo IPI mais baixo deverão fazer o resultado da indústria em 2009 melhor que o de 2008. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) trabalha com a previsão de três milhões de veículos vendidos no País. Esse número foi revisto em agosto, quando a associação ainda previa fechar o ano com 2,8 milhões de automóveis licenciados. Na semana passada, o presidente da entidade, Jackson Schneider, antecipou que a deverá ser batido o recorde de vendas para o mês de setembro.
A recuperação das vendas no mercado interno levou à contratação de 1.300 trabalhadores entre julho e agosto. Mas, após duas prorrogações pelo governo, representantes da indústria não apostam em outra renovação do benefício da redução do IPI.
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